Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

domingo, junho 29, 2003

Coerência

"Minha saúde não é de ferro
Não é, não
Mas, meus nervos são de aço
Prá pedir silêncio, eu berro
Prá fazer barulho, eu mesma faço..."

quinta-feira, junho 26, 2003

Mais uma...

É recorrente que eu vá ao MATCHBOX e encontre alguma coisa muuuuuito legal. É usual mesmo. Hoje, só para variar, me encantei e roubei. Aí está:

"Quando você lê um livro, vê um quadro, você cresce, também fica com vontade de fazer alguma coisa de grande. Preciso de uma coisa que me faça crescer, que me leve além da minha animalidade. Eu queria ser mais do que sou. Eu sou um animal, mas quero passar dessa animalidade. É essa humanidade que procuro."


[Iberê Camargo]

Brisas


Às vezes, acho que tem coisas que acontecem só comigo. Aí, converso com pessoas e vejo que não, que também acontece com os outros.
Uma destas coisas é a impressão que eu tenho sobre coisas que acontecem à noite. Sempre parece terem sido meio irreais. Ou não terem sido. Complicado? Explico:
Coisas acontecem, obviamente, tanto de dia quanto à noite. À noite, quando do acontecimento, tudo parece - como de fato é- real e palpável. O que é preocupante me tortura pelo resto da noite, o que é agradável me deixa em êxtase também pelo resto da noite. Daí, eu vou dormir e, basta entrar pela fresta da minha persiana o primeiro esboço de luz solar, para tudo o que aconteceu perder sua densidade e se tornar tão efêmero quanto um sonho de véspera. Tudo que foi tão intenso, que fez o coração bater tão rápido e o sangue passear pelos meus vasos como se estivesse em highways, tudo, tudo se esvai e ganha o brilho de um conto de fadas diáfano como uma das Brisas.
E aí, eu me questiono se o que aconteceu realmente aconteceu. Porque tudo passa a parecer tão distante que é como se tivesse acontecido em uma outra dimensão, em um universo paralelo somente tocável com a chegada do crepúsculo. Os acontecimentos entram em um território de incertezas e irrealidades em que não lembro exatamente o que foi dito ou se, o que penso ter sido dito, o foi, ou se foi só pensado e não dito, enfim...
Sobre as palavras recai um véu que as encobre de forma nebulosa, tornando-as mais intuídas do que efetivamente rememoradas em sua essência.
E, se eu tentar me lembrar MESMO, minha mente entra num estado tal de torpor que chega a me cansar, de forma que, quando vou contar o acontecido para alguém, falo e eu mesma me surpreendo com o que estou falando, como se fosse a primeira vez que escuto aquela história, como se todos os fatos narrados fossem algo completamente estranho e novo para mim. É inacreditável.
Não sei se isso acontece com mais alguém. Mas, por vezes, me questiono se essa mania que eu tenho de falar que sou doida não tem um toque de realidade.

sexta-feira, junho 13, 2003


MTV - é, gosto não se discute. Mesmo.

Daí, numa daquelas entrevistas curtitas que passa antes dos clipes, a Kelly Key diz:
"- Eu só escuto a mim. Só escuto as minhas (sic) músicas... para acostumar com elas."
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Ah, tá. Agora, tudo faz sentido...

terça-feira, junho 10, 2003

Momento mulherzinha: Novelas

Estou assistindo "Mulheres Apaixonadas". Bem a cena em que a Raquel está apanhando, a raquetadas, do marido.
Ele é um escroto, sem sombra de dúvidas, mas não consigo ter muita pena dela. É uma mulher jovem, instruída, tem uma profissão e, principalmente, não depende financeiramente do crápula (sim, porque este é um dos principais, ou melhor, o principal motivo para parte das mulheres permanecerem com os maridos agressores-imbecis-que-merecem-morrer-com-dor-muita-dor). Além de tudo, eles não têm filhos (o que é o 2º principal motivo para as mulheres permanecerem com os maridos agressores-imbecis-que-merecem-morrer-com-dor-muita-dor).
Então, eu pergunto: por que raios essa mulher agüenta esse filhodaputa na vida dela?
Ah, tenha santa paciência, viu?


Temporada com Possibilidade de Mísseis

Pois é. Estou em plena TPM. Afastem-se, queridos, afastem-se.
Deve durar pouco, no máximo, mais uns dois ou três dias, mas, em compensação, estou no auge da irritação. E da compulsão.
Ontem, tive uma vontade louca de comer trufas da Pralinè. Mas, assim, uma vontade incontrolável mesmo. Daquelas que, só de pensar, já se começa a salivar.
Então, hoje de manhã, bem cedo, fui à Pralinè e comprei uns 200 gramas. Dá, aproximadamente, umas 15 trufas, divididas entre chocolate preto (a maioria) e branco (algumas). Claro que não consegui comer todas de uma vez só. Estava de jejum e chocolate logo cedo me enjoa. Comi umas cinco ou seis e fiquei bem eca.
Cheguei em casa passando mal por um "salzinho". Abrindo a geladeira, dei de cara com um vidro de azeitonas. Comi umas dez.
Aí fiquei bem.
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Fico pensando quando ficar grávida. Pobre futuro pai dos meus filhos.

domingo, junho 08, 2003


Ah, sempre o preconceito

Ontem, tive uma discussão (discussão e não briga), quando estava à mesa com minha mãe, meu irmão e meu primo. Falava sobre o show do Edson Cordeiro, cujo público é basicamente de mulheres hetero e pessoas GLS (de ambos os sexos). Meu irmão perguntou como tinha sido e eu contei que tinha um backvocal, Carlos, que era uma coisa e que foi uma gritaria quando ele tirou a blusa (aliás, tirou não, rasgou). Papo vai, papo vem, meu irmão vem com aquele batido clichê (redundância) de "não tenho preconceitos em relação a gays, mas prefiro que não fiquem perto de mim". A minha mãe disse mais ou menos o mesmo e meu primo concordou. Claro que eu me inflamei, porque acho um absurdo esse tipo de pensamento, e falei, falei, falei até que eles reconheceram o próprio preconceito imbecil (muito embora, ainda considerem que seus pensamentos são os certos).
Aí, agora há pouco, na casa do meu pai, travei discussão acerca do mesmo tema. E ele também nutre preconceito.
Nem discuti muito. Sei que é o tipo de discussão que só vale a pena quando os pontos de vista se parecem. Quando são diametralmente opostos, como são o meu em relação ao do meu pai, mãe, irmão e primo, não adianta nada. Não adianta querer que a pessoa mude a sua opinião neste sentido porque dificilmente isso acontecerá. Quem pensa assim, acho eu, pensará sempre. O que eu posso fazer para diminuir a incidência de pessoas com tal preconceito na sociedade é educar meus futuros filhos para que eles não mantenham qualquer tipo de preconceito que possa ensejar discriminação. E é assim que vai ser. Meus filhos não vão ter qualquer tipo de preconceito. Pelo menos, não se eu puder evitar.

Gautier e Sartre

Estava em casa, zapeando, como sempre e coincidiu de, ao colocar no canal 2, estar passando o Programa Sem Censura, no exato momento em que a Leda Nagle estava entrevistando o Ed Motta, de quem eu gosto bastante. Sempre gostei dele, como cantor, e depois desse programa gosto mais. Ele é muuuuuito engraçado.
Falando sobre os tempos modernos, ele fez uma comparação brilhante (não lembro textualmente, mas a idéia é essa):
"Vivemos num tempo esquisito em que a ignorância é virtude. Jean Paul Gautier, atualmente, é considerado tão artista e tão relevante quanto Jean Paul Sartre".
Brilhante. Achei de uma persipcácia ímpar.

quarta-feira, junho 04, 2003

Lego reloaded

Quando eu era criança, eu tive uns vizinhos japoneses. Eles chegaram sem falar um "a" em português e com aquela timidez típica da cultura oriental. Eu, que sempre fui muito faladora, já forcei uma amizade e, quando eles menos esperaram, já estava acampada na casa deles. Não teve jeito, ficamos amigos.
Hirome e Masaki. Claro que era mais amiga da Hirome. Era menina, a gente se entendia. O Masaki era mais pentelho. Menino com 9, 10 anos é um saco. Mas também erámos amigos. Na casa deles não tinha televisão mas, em compensação, tinha um quarto cheio de brinquedos. Com estantes que iam do chão ao teto. Cheinhas de brinquedos. Um sonho para qualquer criança. O brinquedo que eles mais tinham era Lego. Caixas e mais caixas abarrotadas de pecinhas de todas as cores. Eu adorava porque, como eu não tinha Lego, eu ia todos os dias à casa deles, para brincar.
A nossa brincadeira se dividia em duas fases. A primeira era a da montagem. O "tema" do Lego deles era Viagem ao Espaço, ou algo assim. Então, aquelas plaquetas onde se montam os prédios nunca eram verde-imitando-graminha mas cinza-solo-lunar. Por consequência, também havia inúmeros computadorezinhos, anteninhas parabólicas e mini-fuzíveis. Cada um pegava uma plaqueta e começava a montar sua base. A do Masaki era sempre a mais "high-tech". Ele montava carros que viravam aviões que viravam barcos que viravam robôs. Nunca consegui fazer nada igual e, depois de conhecê-lo, passei a acreditar piamente na teoria de que os japoneses são mais inteligentes que os outros.
A minha base e a da Hirome de base não tinham nada. Eram mais parecidas com uma casinha de bonecas em que os computadores viravam televisões, as anteninhas viravam pratinhos e os fuzíveis, garrafinhas. Tinha até jardinzinho do lado de fora.
Levávamos um dia inteiro para montar nossas bases, carros e cidade, e isso era o mais legal. Era quando a nossa criatividade alcançava sua potência máxima.
No dia seguinte, nos encontrávamos para brincar. Após montada a estrutura, só nós restava brincar com ela. Aí, fazíamos viagens do quarto para a sala ou para a varanda, tínhamos guerras e assaltos, perseguições de carros, surgiam amigos etc etc etc. Lógico que isso, apesar de também ser legal, não era tanto quanto montar então nós sempre patrocinávamos um cataclisma qualquer, terremoto, maremoto, vulcão, chuva de meteoros, que destruía toda a nossa cidade, nos obrigando a reconstruí-la interia no dia seguinte. Foi assim por uns 4 ou 5 anos.
Mas, por que estou contando toda essa história?
Simples: ontem assisti Matrix Reloaded. Fui prevenida, esperando um filme muito mais-ou-menos porque já tinha lido milhares de críticas neste sentido. Para minha surpresa gostei bastante do filme. Na verdade, entendo a crítica que foi feita. O 1 era uma obra fechada, completa em si mesma, enquanto o 2 não tem nem fim. Enquanto o 1 explicava a teoria, o 2 é mais exibicionismo de efeito especial. Não discordo de nenhum destes pontos de vista mas comparo Matrix ao Lego da minha infância. O 1 foi a primeira fase da brincadeira: montar a estrutura, apresentar os personagens principais, explicar as teorias, fazer com que as pessoas entendam o que se está querendo passar. O 2 é a hora de brincar. Com a base explicada e entendida, é a hora de apresentar novos personagens, contar a história prgressa de alguns, mostrar as picuinhas e intrigas sempre existentes em grandes aglomerados humanos. Mesmo que seja em Zion.
Também acho que o 1 é uma obra acabada em si mesma. Acho, inclusive, que o 3 até pode ser (e será) sequência do 2, mas o 2 não o é do 1. O 1 é a base, é denso, é a teoria. Os seguintes são outros filmes. Não são sequências, mas se desenvlvem sobre o pano de fundo apresentado pelo 1.
Além do mais, o 1 foi uma inovação em efeitos especiais. Eu lembro que, quando eu saí da sala de projeção de Matrix, eu estava embasbacada. Nunca tinha visto nada parecido. O reloaded não. Mesmo tendo efeitos novos, eles não diferem taaanto assim dos apresentados no primeiro. Eles não vão ser uma revolução para o Cinema como foram os do 1.
Enfim, gostei de Matrix Reloaded. Nem mais, nem menos do que gostei de Matrix 1, mas só de uma forma diferente.