Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

terça-feira, setembro 28, 2004

Senhor, livrai-me de mim.

Eu seria

Relendo isso aqui, encontrei esse questionariozinho do que eu seria. Como eu não acredito que as pessoas sejam eternamente uma coisa só, resolvi respondê-lo de novo, para ver o que eu mudaria.

Uma cantora seria Madonna Maria Callas.
Uma frase seria ces't la vie...
Uma pergunta seria Por quê?
Uma roupa seria uma vestido decotado saia florida.
Uma música seria Kiss ou I will survive Disease.
Uma flor não seria. Seria uma orquídea selvagem borboleta.
Um nome seria Penélope Paula.
Uma bebida seria água.
Uma palavra seria... não sei, talvez saudade. Mas, certamente, não mais dragonfly.
Uma arma seria uma chicote espada.
Um gesto seria um abraço.
Um animal seria um pássaro.
Um desenho seria X-men Tarzan.
Um personagem seria a Vampira.
Um filme seria Colcha de Retalhos Sob o Sol de Toscana.
Um lugar seria a Polinésia Francesa Itália.
Uma atriz seria Ava Gardner Audrey Hepburn.
Um ator seria Robert de Niro ou Al Pacino Sean Connery.
Uma gíria seria fala sério putz.
Uma idade seria 17 anos, idade da diversão 23 anos, a idade da transformação.
Um perfume seria Opium qualquer coisa bem fresquinha.
Um livro seria Cem Anos de Solidão Soberba - O Vôo da Abelha Rainha.
Um professor seria de História da Arte Dança.
Um objeto seria um livro.
Um instrumento seria um violão espanhol.
Um horário seria 10 da manhã 9 da manhã -- acho que tô ficando velha.
Uma cor seria preto.
Um dia seria sábado.
Um refrigerante seria coca-cola.
Um chocolate seria Twix Talento verde.
Um cigarro seria: não seria.
Uma estação seria Verão.
Uma fruta seria cereja melancia gelada.
Uma comida seria qualquer prato italiano.
Uma utopia seria um mundo sem preconceitos.

terça-feira, setembro 14, 2004

Meninos, eu vi

Amavam-se e, enfim, casaram-se. A teoria dos opostos se aplicava como nunca a eles. Apesar de ser de um tamanho inexpressivo, coisinha franzina, quase esquálida, Neném* era daquele tipo de gente que não leva desaforo para casa, para quem qualquer coisinha é ofensa digna de revanche. Minha Vida*, por sua vez, era imponente, grande para todos os lados, mas de uma calma placidez.
O amor, no entanto, pulou pela janela quando o ciúme entrou pela porta. No começo, era só o normal, o socialmente aceitável (e, às vezes, até desejado) mas a coisa se desenvolveu num crescendo tal que a violência familiar começou a se manifestar. Um grito, dois, seguidas agressões verbais, até que aconteceu: o tapa. Daí prá frente, Neném virou vítima constante da pior forma de demonstração de amor: a possessividade cega. Nem família, nem amigos entendiam porque que uma pessoa que nunca aguentou nada de ninguém se submetia àquele tipo de vida. Mas, como em briga de marido e mulher, não se mete a colher, nada era dito, ninguém tentava se meter.
Depois de várias surras, escoriações, hematomas, queimaduras e membros quebrados, Neném -- que, mesmo nos momentos das surras e gritos, continuava sendo "Neném" -- resolveu se separar de Minha Vida. Não aguentava mais tanto sofrimento e tantos pedidos de desculpas posteriores. Tinha cansado de perdoar hoje para apanhar mais amanhã. Aguentava ainda menos a chacota diária dos colegas de profissão, que nunca entenderam como que Neném, motorista de táxi, homem bravo, daqueles que não levava desaforo para casa, suportava tantos e tão humilhantes tabefes de sua esposa, carinhosa e eternamente chamada de Minha Vida.
Neném se separou e sofreu mais do que se tivesse levado a maior das sovas. Magricela que já era tornou-se um fiapo de homem. Quase um esqueleto. Nunca mais arrumou outra pessoa que o completasse como Minha Vida. Passou a viver só e amargurado, apesar de nunca mais apresentar sequer um mínimo arranhão.
Minha Vida, entretanto, casou-se de novo. Com homem que a subjugava e, eventualmente, espancava. Minha Vida nunca reclamou e até parecia gostar. Dizia estar feliz. Se mudou junto com o novo marido -- "homem forte e viril" -- para uma casa vizinha à que compartilhou por anos com Neném.
Neném nunca entendeu. Passou o resto de sua curta existência a ver Minha Vida desfilando seu olho roxo, de braço dado com seu homem e sorrindo de orelha a orelha.
Neném morreu. Se de inanição ou de inconformismo, ninguém sabe.
O que se sabe é que Minha Vida continua lá, feliz com seu olho (por vezes, olhos) roxo, a cantarolar e sorrir de orelha a orelha.

* Essa é uma história real. Juro. Os nomes foram trocados para evitar constrangimentos, processos e todo aquele blábláblá.

sexta-feira, setembro 03, 2004

Consciência pesada

Daí, antes de dormir, fui à cozinha beber água. Saindo, tentei fechar a porta (percebi que tenho agonia de portas abertas, à noite. Fecho todas.) e algo me impediu. Ouvi seguidos cracks e a porta definitivamente não fechava. Como estava escuro, fiquei meio com medo por causa do barulho esquisito, me afastei da porta e, depois de concluir que devia ser uma vassoura presa, acendi a luz.
Era uma lagartixa. Ela estava sem rabo, provavelmente já tinha sido atacada por um predador qualquer antes. E eu a esmaguei. Ainda toquei nela mas ela não se mexeu.
Fiquei arrasada. Tadinha, morrer desse jeito. Meio tristinha, joguei o bichinho no lixo. Fui dormir. Tive pesadelos: em todos eles estava a lagartixa.
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Acabei de ganhar o Tão-Esperado. Chegou pelas mãos do João, um cara muito gentil. Tiramos umas fotos porque o Menino-Maluquinho quer publicá-las no blog. Já comecei a ler. Li até a metade mas parei. Concluí que não consigo ler crônicas assim: uma depois da outra, sem intervalo. Amanhã, começo a ler de novo. Uma por dia. Para ler direito.