Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

terça-feira, junho 29, 2004

Crise existencial

"Ninguém me ama, ninguém me quer,
Ninguém me chama de Baudelaire..."

segunda-feira, junho 28, 2004

Recado teleguiado

Sei que você não vai ler isso aqui. E que, em lendo, nunca vai achar que o recado é para você. Mas, quero escrever. E vou.
Não veja os seus defeitos em mim. Não faça isso porque eu admito muita coisa, mas isso eu não admito.
Sabe, eu tenho muitos defeitos. Muitos. Centenas. Milhares. Grande parte deles eu conheço. Sei que os tenho e luto diariamente contra eles. Alguns outros, devo ter mas não sei. Só os que me cercam os conhecem (ou reconhecem) e, se não me falam da existência deles, é por misericórdia e piedade da minha já tão atormentada alma. Outra coisa que eu sei que tenho são qualidades. Reconheço as que tenho e, principalmente, as que não tenho. Estas últimas, eu persigo também diariamente. Tentando, sempre, imbuí-las em mim.
Mas, mais do que as qualidades que sei que tenho e que não tenho e os defeitos que sei que tenho, eu sei os defeitos que eu NÃO tenho. E os seus defeitos fazem parte desse grupo.
Justamente, por reconhecer a imensa maioria dos defeitos que tenho, não admito que atribuam a mim defeitos que não são meus. Por motivos óbvios, não quero ser vista com mais defeitos do que os que eu realmente tenho. E acho um absurdo que você, além de não ver os seus próprios defeitos, de não olhar para o seu próprio rabo, ainda ache legítimo enxergá-los em mim. Ah, me poupe, tá? Me poupe.

quinta-feira, junho 17, 2004

Casulo - sentimentos randômicos

Penso, penso, travo grandes diálogos sozinha, verdadeiros monólogos bipartidos, e digo "vou escrever, vai passar..."
Quando pego a caneta, tudo se esvai, as palavras não me vêm e fica difícil pôr tudo para fora. Talvez eu não queira que passe.
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Estou introspectiva. Conseqüência de um turbilhão disfarçado por uma superfície plácida, plasmica, plástica. O medo me imobiliza. O medo de sentir, de ouvir, de querer, de ganhar, de perder, de tremer, de suar, de sangrar, de doer, de sofrer, de morrer. O medo de se repetir, de doer igual, de doer diferente, de não doer. O medo do novo, do medíocre e do tempo, que não pára. Odeio sentir medo. A imobilidade me irrita. A inércia me sufoca.
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Um olhar novo quando tudo parecia o mesmo. Nesgas escaparam e vieram bater em mim. Brumas voláteis que, a todos os outros, passaram despercebidas.
Uma das poucas vezes em que não quis prendê-las para tranformá-las em quimeras. Preferi que se diluíssem e se perdessem no vento. O possuidor destas pequenas fugitivas jamais vai sequer pensar o quão perto elas chegaram de se metamorfosear em monstros. Mas, não. Leves nasceram, leves continuaram a ser.
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Às vezes, minha pieguice cansa até mesmo a mim.
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Depois, não reclame, meu amor. O problema nunca é o que foi feito, mas como foi feito.

segunda-feira, junho 14, 2004

Visão panorâmica do meu quarto

Poucas são as vezes em que eu tenho consciência de mim mesma. Ontem à noite foi uma delas.
Quem entra no meu quarto se depara com o seguinte:
Ao abrir a porta, vê um espelho em forma de lua com um ETzinho ligado a um liquidificadorzinho em cima. Em cima da porta, tem dois anjos no estilo Rosso Fiorentino. Atrás da porta, um espelho grande com uma frase escrita a lápis-de-olho. Ao lado do espelho, um cabideiro com minhas milhares de bolsas penduradas, inclusive aquela laranja, muito laranja, inclusive o guarda-chuva rosa-choque, muito rosa-choque.
Depois desse impacto visual, entra-se no quarto. De cara, vê-se o meu armário que tem uma cantoneira com estantes. De cima para baixo, se vê o seguinte: 1ª estante - livros; 2ª estante - mais livros; 3ª - um bauzinho de madeira, Lola, minha boneca espanhola, dois cazaisinhos de dançarinos espanhóis, uma foto minha vestida de anjinho, cristais, uma bailarina de vidro, uma vaquinha de vidro com a língua para fora, um Pinocchio, um queimador de essências (não, não sei o nome disso), dois vidros de essências, uma garrafinha de Coca-cola com um lápis rosa da Helo Kitty dentro; 4ª - fotos, um dragão dourado, a bandeirinha brasileira que eu levei para a Itália, um buda, cristais, cristais, cristais, um galinho português, pirâmides de cristais, 2 gatinhos chineses dançarinos, uma tartaruguinha (a Charlotte), um potinho com I-Ching, um potinho cheio de cristais; 5ª - Anjo, vela com coraçõezinhos, um porta-incenso, anjo, anjo, cristais, imagens de Santo Antônio e de Nossa Senhora de Fátima, fotos; 6ª - um prato de cerâmica com três bolas barrocas em cima, um dicionário italiano, uma vela enorme de coração, uma gatinha no cesto, que parece real, a Flora, cristal, cestinho de metal que foi da minha vó; 7ª - mais livros. Daí, tem a cama, com um Tigrão de pelúcia, uma almofada amarela Smile e uma vermelha de coração em cima. Acima da cabeceira, tem um quadro de fotos de feltro amarelo, abarrotado de fotos e um móbile de Luas. No parapeito da janela, várias imagens de deuses egípicios e gregos, um filtro dos sonhos, livros e um cofre de porquinha-com-filhotinhos; em cima do DVD, três vaquinhas de pelúcia e, em cima da TV, uma caixinha de madeira entalhada e uma tartaruga de pelúcia; na parede oposta, outro quadro de fotos, dessa vez, azul e de ímãs. Os ímãs, por óbvio, são de bichinhos, corações e plumas cor-de-rosa. Ainda tem um baú cheio de postais à la 50's colados (eu que fiz) e outro com estrelas pintadas a óleo (também fui eu que fiz). Na escrivaninha, fotos, fotos, fotos, um castiçal de estrela e uma Dory que fala o baleiês.
Tudo isso fora a cortina rosa que eu mandei fazer para botar na porta do banheiro e todas as roupas e sapatos espalhados pelo quarto.
Não satisfeita, ontem, ainda colei vários postais dos quadros de Botticelli, Togores e Fiorentino e paisagens toscanas em volta do espelho que tem uma frase escrita a lápis de olho.
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Não, eu não sei viver num ambiente clean. Definitivamente.

sexta-feira, junho 11, 2004

Sábio Tio Samuel

Casa do meu pai. Quase duas da tarde. Eu, tentando ler. Ele, me perturbando o juízo. Prá fazê-lo sossegar, topo procurar um CD para ele. Em meio a vários CD's dos Beatles, The Platters, Zé Ramalho, Nelson Gonçalves e Luiz Gonzaga, dou de cara com um Pink Floyd - The Wall.
Péra, repetindo: meu pai. Pink Floyd. De novo: Pink Floyd. Meu pai.
Quem conhece meu pai entende meu espanto.
Aliás, depois da teoria de que não somos, originalmente, da Terra e da ida à Cartomante, não sei porque ainda me surpreendo com o Bertolino. Não sei mesmo.
Como diria Tio Samuel: Morro e não vejo tudo.

Começou.
A Fênix já virou cinzas há algum tempo.
O tempo das mudanças chegou.