Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

quinta-feira, março 04, 2004

Das muitas personalidades -- considerações randômicas

Todos sabem que eu tenho mais de uma personalidade. Quem não tem certeza, seguramente, desconfia. Dentre elas, 3 são reconhecidas por mim e pelos que me cercam.
A dominante é a boazinha. Eu disse "é"? Corrigindo: era. Sério mesmo, não tô fazendo tipo, não. Era a preocupada com os outros, a que não queria magoar, a que sempre escutava "você tem que pensar mais em você... você nao pode resolver a vida de todos e blábláblá...". Quantas vezes eu escutei isso? Nem eu sei mais. Essa é a Boazinha (obviamente, minhas personalidades têm nomes, mas não vou colocá-los aqui). Posso divagar a respeito e desenvolver teorias de que ela era (ou é) boazinha porque era megalômana e que a megalomania vem da vontade de dominar tudo mas não vou fazer isso: ficarei na superfície e direi apenas que ela é boazinha e ponto. Ela viajou sendo a dona do pedaço e voltou ainda como acionista majoritária. Mas pecou por excesso de segurança, quando não prestou atenção ao desenvolvimento escondido da outra. A outra é a Má. Ela é ácida e cruel mas não é desumana -- essa é a terceira personalidade, e dessa não falarei. Ela não chega a ser desonesta ou sem escrúpulos mas ela é má. Ela é mais ela e, sobre coisas que ela não pode (ou não quer) resolver, ela prefere nem pensar, quem dirá despender energia. Dificilmente, ela tem crises de consciência (ao contrário da Boazinha), e vive bem consigo mesma. Às vezes, bem demais, chegando a excluir pessoas, sem mais explicações. Não sei explicar direito, mas é assim. Fato é que ela sempre existiu mas nunca chegou a se manifestar de forma tão intensa. Principalmente porque a Boazinha tomava conta de tudo, como uma erva daninha, e a asfixiava. As manifestações da Má se restringiam aos -- poucos -- momentos em que a Boazinha já estava cansada, muita cansada de uma situação. E, acredite, para a Boazinha cansar mesmo de algo, leva muito tempo. Por vezes, alguns anos.
Pois é. O problema é que eu tenho observado a aparição cada vez mais constante da Má. Quando eu vejo, ela já esta falando pela minha boca há horas, sem se importar com as conseqüências. E, quando eu consigo calá-la, o estrago já foi feito. Agora elas estão em pé de igualdade. Ou quase. E isso me amedronta. Principalmente porque ferir alguem, mesmo que seja para me defender, já não tem mais incomodado tanto quanto antigamente. Aliás, devo admitir, em algumas situações, causa, até mesmo, certo regozijo interior.
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Medo, muito medo.