Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

sábado, março 08, 2003


Estrelas

Uma vez, quando eu era bem pequena, minha tia me ensinou o seguinte versinho: "Primeira estrela que vejo, realize meu desejo" e aí você fazia um desejo à primeira estrela que avistasse no céu. Nessa época, eu era apaixonada por um garotinho que cursava a 1ª série comigo e, todas as noites, eu pedia ardorosamente para a estrela fazer com que ele me amasse. Depois de um tempo, uma outra tia me ensinou outro versinho: "Lua, luar, traz o ________ para me namorar...". Desde então, a estrela ganhou reforços, porque todas as noites eu pedia para que ela, junto com a Lua, fizesse que o tal garoto se apaixonasse por mim. Funcionou. Ele se apaixonou.
Enfim, fui crescendo, os garotos foram mudando e, por fim, os desejos passaram a ser mais do que querer que alguém se enamorasse de mim. Mas, o costume de pedir à Lua e às estrelas perdurou.
Ontem, estava voltando a pé do cinema, depois de ter assistido também a uma apresentação de MPB no Terraço Shopping. Enquanto cantarolava "Chega de Saudade", olhei para o céu e recitei o versinho para a estrela... mas, não soube o que pedir e acabei não pedindo nada.
Fiquei meio melancólica porque eu sempre tive algo que quisesse muito. Sempre tive algo que me movia e pelo qual eu nutria a mais profunda paixão. E, ontem, não consegui pensar em nada que me empolgasse a ponto de pedir para as estrelas.
Ainda não sei se o motivo de eu ter vacilado com o pedido foi o fato de eu ter tudo ou de não ter nada.