Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

segunda-feira, agosto 05, 2002


Às vezes eu me questiono porque certas pessoas sentem necessidade de mostrar que são tão ou mais alguma coisa do que eu...
Sou um ser humano normal. Não sou linda, nem o supra-sumo da gostosura. Leio bastante, mas deveria ler mais. Tenho uma cultura relativa, mas nada que um cidadão mediano também não tenha. Sou legal e engraçadinha, mas nada demais... Tenho amigos, mas não tantos quanto gostaria (talvez, mais do que mereceria). Tenho uma família legal, me dou bem com meus pais e com meu irmão, mas sempre achei que o padrão seria esse e não o contrário.
E, mesmo assim, com todas essas limitações, existem pessoas que insistem em querer ser como eu ou mais que eu...
Entenda, não estou sendo modesta, nem nada disso, até porque como diria meu pai "a modéstia é qualidade das pessoas que só têm ela" (muito embora, nem sempre pense assim), e como sabem as pessoas que me conhecem, não sou modesta. At all. Mas uma coisa que tenho é consciência da minha mediocridade em vários pontos... Sei que às vezes sou medíocre porque quero, porque não estou afim de me esforçar, e me mantenho na inércia...
Pois bem, mesmo com tudo isso, tem gente que insiste em me tomar como ponto de referência.
Quer saber? Não faça isso. Ponto de referência é Ghandi, não eu. Sou tão imperfeita quanto uma pessoa normal pode ser. Talvez até um pouco mais. Tenho inúmeros defeitos que reconheço e outros tantos que só os que estão à minha volta percebem. Se eles não os jogam na minha cara, é por pura piedade. Sei disso...
O pior é que não posso chegar na pessoa de quem sou objeto de imitação ou ideal de vida e falar "Pára com isso! Você pode ser mais que uma cópia de um produto danificado". Simplesmente não posso. Magoaria de forma inescusável.
Então, convivo como se não percebesse que está acontecendo, mesmo que isso me irrite...
Às vezes, rio; normalmente, desculpo essa atitude, por saber que a pessoa em questão nada mais está fazendo do que tentando agradar... Sabe criança que diz que não gosta de alface e, quando você, adulto que ela adora, diz "mas, eu gosto", mais do que rapidamente, ela emenda, dizendo "não gosto MUITO. mas também gosto..."? Pois é. É a essa atitude que me refiro, só que protagonizada por pessoas que já deixaram de ser crianças há muito tempo...
Acontece de perder a paciência, mas, via de regra, tento ser condescendente e entender que aquela pessoa só está tentando parecer agradável aos meus olhos...
Mas, o que eu queria mesmo, era poder dizer que ninguém precisa ser igual a mim para me agradar...
Só concorde com a minha opinião se ela também é a sua. Se não, refute. Diga que não pensa da mesma forma. Não vou deixar de gostar de você por isso. Mas, nunca, nunca se anule por mim. Isso faz com que eu me sinta péssima.
Não gosto de pensar que alguém perde a vontade própria por mim. Tem gente que gosta de ter esse tipo de poder sobre as pessoas. Eu não.
Prefiro pessoas que me dizem "Paulinha, nada a ver..." do que pessoas que concordam cegamente com o que digo. Ou que desejam cegamente viver o que eu vivi, conhecer o que eu conheci, ler o que eu li.... Isso me enerva aos píncaros...
Não queira ser mais ou menos do que eu. Eu não sou tudo isso e não mereço tal tipo de devoção (nem sei se poderia chamar isso de devoção)... Queira ser você, queira superar os seus limites, e não os meus.

Quer saber, se continuar falando sobre isso, vou fazer um post absurdamente grande, então vou parar... Acho que falei tudo o que queria (até demais), e falar mais seria chover no molhado, absoluta redundância...

Então, basta, tchau.