Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

quinta-feira, maio 27, 2004

Como fazer um filme muito ruim - parte I

Prá dizer a bem da verdade, como fazer eu não sei, não. Mas sei identificar. E "O Vestido" não é ruim. É péssimo. Ou, como diria Ney Latorraca, péééééééééééssimo. Puta merda, que filme ruim.
Ontem, depois de uma prova em que eu jurava ter ido bem e fui terrivelmente mal, resolvi ir para casa. No meio do caminho, mudei de idéia e fui para o Píer. Fui dar uma olhada nos filmes e vi que tinha uma sessão às 12:15 de "O Vestido", filme que eu já estava querendo ver. Ótimo, entrei achando que só ia ter eu lá dentro. Não, tinha mais três caras. Começou a sessão, então, com esse número exorbitante de espectadores:4.
Certo, vamos à história do filme (pelo menos, até ao pedaço que eu consegui assistir):
Começa com 2 pirralhas dançando com um vestido rosa, longo e extravagante mas bonito. Uma diz à outra que viu a mãe chorando, olhando para o vestido e elas decidem perguntar o porquê.
Antes, elas saem com a mãe (que é aquela mulher que faz a irmã da Maria Clara, na novela. Não, não me lembro o nome dela. E, não, não vou pesquisar. Para fins de identificação, chamemos a sua personagem de "a esposa-besta") para um comício político. Lá, encontram com o primo da mãe, que sempre foi apaixonado por ela, feito pelo Daniel Dantas. Ele é uma cara rico porém sem escrúpulos, disposto a tudo para se dar bem. Vamos chamá-lo de "o primo-canalha".
A mãe, ao chegar em casa, decide contar toda a história do sumiço do pai (feito pelo Leonardo Vieira, que, entende-se, fugiu por ter matado alguém ou coisa parecida e que nós chamaremos de "o marido-imbecil"). A história: há três anos atrás, o marido-imbecil era infeliz, muito embora a esposa-besta acreditasse ter o casamento perfeito. Ele tinha uma esposa que o amava, duas filhas fofas mas estava falido e sentia falta de aventuras na vida. Ele vai na tia-costureira para pegar o vestido que ele viu numa revista e pediu para ela fazer, para presentear a sua esposa.
Nesse dia, o primo-canalha traz para a cidade a namorada, esteriótipo de menina-da-cidade-grande, (Gabriela Duarte), que, aqui, chamaremos de "a danada". A danada, mais do que prontamente, fica amiga da esposa-besta, que lhe mostra toda a cidade. Daí, num almoço na chácara de sabe-Deus-quem, onde está toda a cidade (depois de a danada, descaradamente, dar em cima do marido-imbecil), as duas vão para um dos quartos da casa e a esposa-besta epde para que a danada vista o vestido (aquele) porque quer ver como ele fica em outra pessoa. A danada, lógico, veste e adora e a esposa-besta fala que vai dá-lo para ela. Certo, pára tudo: o seu marido compra uma molda-moldes, escolhe um vestido lindo e sexy que ele quer que você use no Ano Novo, manda fazer e você, estúpida, dá para uma estranha?!? Ah, tá...
Bem, continuemos.
Quando a danada está com o vestido, quem entra? O marido-imbecil, que imediatamente fica encantado em vê-la. Rola um flerte, na frente da esposa-besta e a danada sai do quarto. Blábláblá. Ano Novo. Estão todos na única festa da cidade. Daí, quem chega? A danada. Vestindo o quê? O vestido, é claro. Daí, ela chama o marido-imbecil para dançar e os dois começam a se agarrar na pista de dança. Mas, se agarrar mesmo. Com vontade. A esposa-besta sai do salão arrastada pelos amigos.
Então, quando já estão nus, na cama, a danada diz para o marido-imbecil "você não vai me possuir... a não ser que a sua esposa, que acha que tem o casamento perfeito, venha me implorar para eu dormir com você....". Ele fica louco, mas volta para casa. Entra em depressão. A esposa, preocupada, pergunta o que pode fazer e ele diz. A doida, digo, esposa-besta, então, resolve pegar o marido pela mão e levá-lo para a casa da danada, que o está esperando vestindo O Vestido.
Nessa hora, eu já tinha pensado em sair da sala umas duas vezes. Mas, fiquei.
Daí, depois de pegar a danada, o marido-imbecil resolve abandonar a família, ir para o Mato Grosso para virar garimpeiro e enriquecer rápido. Ele vai, junto com a danada. Lá, eles viram o casalzinho perfeito, ela cozinhando numa casinha de barro e ele, garimpando. Aí, ela engravida. Aí, eles transam e perdem o bebê. Toda essa história é contada pela mãe, às filhas. Aí, a filha mais velha pergunta porque que o vestido tem uma mancha de sangue. E a mãe diz que recebeu o vestido junto com o diário da danada. Daí para frente, é a danada que passa a contar a história. Mas, aí, eu já tinha desistido de ficar naquela sala e já estava me retirando.
Saindo de lá, passei na frente de outra sala, entrei e acabei vendo "Tróia" de novo.
Mas, depois, pensando a respeito de "O Vestido" acho que entendi porque ele é tão ruim. O autor, diretor e produtor (ou estou enganda, ou é tudo a mesma pessoa. Convenhamos, é muito ...or para uma pessoa só.) tem complexo de Nelson Rodrigues. Quem vir esse filme (coisa que não recomendo) há de concordar comigo. Ele não só tem complexo, como acha que é o próprio Nelson Rodrigues. O problema é um só: ele não é.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Simplesmente ridícula essa crítica, com certeza o autor da mesma não tem visão crítica o suficiente para entender e observar a incrível essência do filme, que estraordináriamente desvenda muitos segredos e mistérios que só uma leitura de terceiro nível pode revelar. Se vc souber fazer uma análise profunda do mesmo perceberá que cada mínimo detalhe do filme foi pensado e elaborado estrategicamente desde a simples posição de uma pessoa dentro do rio como a cor da água...
e todas as outras cores, enfim o filme é ótimo pra quem quer aprender a fazer análises de cores, posições, nomes, tudo tem um sentido neste filme que é espetacular!!! Não se trata apenas de um enredo, o filme vai muito além disso!!!

1:07 PM  
Blogger Paulinha said...

Cleusa,

Então, antes de mais nada, não sou um "autor", mas uma autora. E não "da mesma", porque "a mesma", "o mesmo" e variantes aplicados dessa forma, como sabemos, não existem gramaticalmente. Enfim, superado esse ponto, vamos ao mérito da questão.
Não gostei desse filme. Ponto. Achei uma bosta. Ponto. Aliás, o livro também é péssimo e, para minha surpresa, consegue ser pior do que o filme (coisa rara em se tratando de livros que viram filmes).
Você gostou. Paciência. A vida é assim. Como diria minha mãe, o que seria do azul se todos gostassem do amarelo?
Quanto à possibilidade de uma "leitura de terceiro nível", o que quer que seja isso, não estava disposta. Realmente, um filme vai além de um enredo. Mas, quando o enredo é tão ruim quanto ao do Vestido, não me dou ao trabalho de analisar mais nada porque, convenhamos, um filme sem enredo não chega nem a ser um filme.

10:02 AM  

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