Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

segunda-feira, novembro 04, 2002


Filmes, filmes, filmes. Dois filmes bons: O Óleo de Lorenzo e O Dragão Vermelho. Falemos primeiro deste último.
"O Dragão Vermelho" conta a história que antecederia "O Silêncio dos Inocentes". Filme bem bom apesar de tentar requentar a fórmula de comprovado sucesso d' "O Silêncio dos Inocentes". Os personagens meio que se mantêm os mesmos: Anthony Hopkins, sempre perfeito, como Dr. Hannibal Lecter, um assassino frio à procura de uma "transformação", e um detetive (Edward Norton, também, como sempre, muito bem) que, apesar de toda a sua inteligência e facilidade em pensar como o assassino, precisa da ajuda do Hannibal para pegar o assassino. Há quem diga que esse filme é o melhor dos três. Pessoalmente, eu não acho. Por vários motivos. "O Silêncio dos Inocentes" contou uma história muito bem articulada, dando ênfase especialmente ao relacionamento detetive (Jodie Foster)- Dr. Lecter. O assassino propriamente dito aparece já no final, numa das cenas mais angustiantes que eu já vi na vida. Além disso, ele faz uma conexão bem lógica entre as mortes, a necessidade de transformação do assassino maluco e o porquê da transformação. Em "O Dragão Vermelho" o assassino também busca essa transformação dada a infância de violência, principalmente psicológica, que teve com a avó. Mas o filme não explica qual a sua relação com a figura do dragão e porque o cara quer se transformar no Dragão. Além disso, não explica porque o cara não tem dentes ou do quê a avó dele morreu.
Fora isso, não vi muita coesão em o Dr. Hannibal Lecter mandar o tal dragão matar o detetive. Isso não faz muito o estilo dele.
E também achei que ele deu as informações de forma muito fácil. Quem assistiu "O Silêncio dos Inocentes" sabe o parto que foi para a personagem da Jodie Foster conseguir arrancar alguma coisa do Doutor. E nunca eram pistas mastigadas. Sempre exigiam dela o máximo de esforço mental para serem entendidas, o que não acontece nesse filme. Aqui tudo é muito explicadinho.
No entanto, apesar desses pesares, é um filme bom para tomar sustos.

Passemos para o segundo filme. O Óleo de Lorenzo. Já assisti esse filme várias vezes mas, quando vi a propaganda na Globo, resolvi assistir mais uma vez. Não vou me ater a explicações muito longas e confusa sobre gorduras monoinsaturadas e cadeias de carbono para explicar a história. O enredo é mais ou menos o seguinte: um garoto tem uma doença degenarativa incurável, que gradualmente vai acabando com sua visão, audição, capacidade de falar e andar e, por fim, mata em, no máximo, quatro anos. Seus pais, não aceitando essa situação, resolvem estudar a doença até entendê-la (já que nem os médicos ainda a entendiam direito, já que só tinha sido descoberta há menos de dez anos) e passam a procurar a cura. Depois de um período muito difícil de estudo de bioquímica, cadeias genéticas e estrutura das gorduras insaturadas, mesmo com o descrédito e total ausência de apoio da maioria das pessoas, eles conseguem encontrar uma fórmula composta por dois óleos que bloqueia o avanço da doença e salva a vida de seu filho. É claro que o garoto já está num estágio avançado da doença, porque leva uns três ou quatro anos para que eles descubram essa cura, mas pelo menos a doença é estagnada.
O mais legal de tudo é que é uma história real. Realmente existem essas pessoas que, mesmo sem entender patavina de qualquer coisa relacionada à medicina, resolvem se voltar contar o status quo estabelecido e procurar a cura para a doença do próprio filho.
O garoto, hoje em dia, tem 24 anos e, em mês passado, a fórmula por eles inventada foi aprovada pelo Conselho Americano de Farmácia, FDA, ou coisa que o valha. No final do filme, ainda aparece os meninos (essa doença só dá em meninos) que já tomavam o óleo em caráter experimental e que, por isso, não forma acometidos por todos os males causados por essa doença.
Esse é um filme que vale a pena ver. Mesmo.