Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

segunda-feira, agosto 12, 2002


Sabe, eu tenho um grande defeito. Na verdade, não sei se seria defeito ou qualidade... chamemos, portanto, de característica. Então, eu tenho uma característica marcante. Daquelas que dificilmente será modificada com o tempo. Sim, porque parte das características de nossas personalidades acabam por se modificar- para melhor ou para pior- com o tempo.
Bem, essa é uma das que eu acho que sempre permanecerá comigo: ruminar as coisas (no sentido metafórico, é claro).
Eu rumino tudo. Tudo que me é dito ou feito. De bom ou de mau. Sabe aquela história "eu não esqueço nada"? Pois é, eu não esqueço nada.
Não porque fique remoendo ou guardando para dar o troco depois. Só porque eu não consigo parar de pensar em algo até considerar todas as hipóteses, plausíveis ou não. Às vezes penso em coisas que poderia falar, só prá machucar ou me vingar ou reagir a qualquer desses sentimentos mesquinhos que, em alguns momentos, nos acometem, mas acabo deixando prá lá. É a minha eterna mania de não querer magoar as pessoas, especialmente as que eu amo.
Via de regra, são as pessoas que amamos que nos machucam. Pelo menos, comigo é assim.
Eu dou pouca ou nenhuma importância ao que dizem ou pensam de mim, salvo se for alguém que eu amo. Por "alguém que eu amo" entenda namorado, família, amigos...
Quando o juízo de valor é formulado por alguém que eu amo, eu me preocupo. Sempre quero ser o melhor possível para essas pessoas e acabo querendo que elas também o sejam para mim. E aí eu cobro. Sei que não devia, vovó já diria "cada um dá o que tem", mas não dá, eu cobro mesmo. E crio expectativas. E sofro quando essas expectativas não correspondem à realidade.
E volto a ruminar, para criar menos expectativas ou expectativas mais reais, onde caibam erros e acertos, onde a pessoa não tenha que ser perfeita.
Normalmente, é um processo um pouco doloroso deixar de lado tudo que estava formulado na minha cabeça e começar de novo, mas é algo que pode ser desencadeado a qualquer momento, por qualquer bobagem (que, prá mim, nunca vai ser uma bobagem) e que, no fim, vale a pena, pois passo a não esperar mais o que as pessoas não podem me dar, a entender seus defeitos (bem como, espero que elas entendam os meus) e a conviver bem com isso...
Estou num desses estágios, de reformulação geral... vamos ver no que vai dar...
Começamos com uma característica e passamos por um defeito e concluímos com não sei o quê.
Sempre acabo mudando de assunto antes que possa perceber.
Vou ruminar a respeito disso...