Como acontece
A coisa acontece da seguinte forma:
Primeiro vem a fase do reconhecimento. Tudo é muito novo e ainda se pisa em ovos por, justamente, não saber onde se está pisando. Depois vem a fase em que já existe certo conhecimento de terreno e tudo é legal, porque é a fase da descoberta de um mundo completamente diferente do seu. Passa isso, o "legal" aumenta, porque agora tem-se mais proximidade, já se sabe do que está falando e como e com quem se está lidando. Essa normalmente é a melhor fase pois a cumplicidade está no auge mas ainda não cessaram as descobertas.
Aí, vem a rotina. Não que seja ruim, aliás longe disso. É uma situação boa porque você já conhece bem e sabe que pode contar com o outro em qualquer situação. Além disso, eventualmente, esse alguém ainda consegue fazer algo que te surpreenda e acaba por dar um sopro de ar fresco na relação. É quando você vê que, mesmo com alguns percalços pelo caminho, a coisa vale mesmo a pena. Se parar aí, está tudo certo.
Mas, em algumas situações, existem mais duas outras fases.
A primeira é a da rotina chata. Aquilo que era conhecimento e intimidade vira monotonia. Você passa a considerar a sua vida sem a outra pessoa e não se incomoda tanto com essa possibilidade. É claro que isso é meio gradativo. Começa com um pequeno incômodo, você cansa de alguma coisa específica que o outro costuma fazer. Depois aumenta e coisas que antes eram normais para você passam a te chatear. Chega a um ponto que você, em alguns momentos, evita deliberadamente estar com aquela pessoa. A situação cresce e chega a um ponto que você já considera a real possibilidade de renovar sua vida e conhecer alguém novo. Você passa a não querer mais aquela situação desgastada e estressante e, finalmente, se cansa de vez.
Aí, vem a fase final: o abandono. Você, por não agüentar mais tudo aquilo, abandona de vez a pessoa em questão. Você, que sempre se preocupou em como as suas atitudes iriam repercurtir frente a ele (a), passa a não ligar mais para isso. Aliás, você não está mais nem aí se alguém vai sofrer ou não com o que você está fazendo. Liga o botão do "tocar o foda-se" e... foda-se. Tudo que você quer é se ver livre, se sentir bem.
Comigo é assim que acontece. Muitas vezes a outra pessoa nem desconfia que eu estou me sentindo assim e só percebe tudo quando eu já abandonei. Aí, você me pergunta mas por que você não tentou conversar com ela?
Pois é. Boa pergunta. Justo eu, que gosto tanto de conversar e que acho que tudo pode ser resolvido, ou pelo menos amenizado, por uma conversa. Já pensei muito a respeito disso. Acho que é porque, quando estou no estágio do "cansaço", eu considero a coisa
tão óbvia que não vejo como o outro não percebe. E como eu já estou cansada, não me dou nem ao trabalho de explicar.
Admito que abandonei raríssimas vezes. E que, em algumas dessas vezes, eu me arrependi. Não por mim, porque dificilmente o abandono é um rompante. Antes, tudo já foi muito pensado e muito ruminado. Só me distancio de alguém quando tenho certeza que aquilo não me faz mais bem mesmo e que não tem jeito de ser reparado. Sou uma pessoa meio covarde para as mudanças drásticas na minha vida, então tirar alguém dela (ou sair da vida de alguém) para mim é sempre uma situação muito penosa e por isso, uma decisão tomada depois de muita, muita reflexão.
O meu arrependimento diz respeito ao outro, ao que eu deixei. Depois que tudo passa, vejo que causei um sofrimento que poderia ter sido amenizado se eu tivesse saído do meu universo umbiguista e conversado, explicado, demonstrado que aquilo não dava mais certo. Porque, na maioria das vezes, a pessoa só percebe o que está acontecendo quando já aconteceu, quando não tem mais volta. E não entende nada. E, por óbvio, sofre por não entender, "pôxa, estava tudo tão bem... o que será que aconteceu?". E aí, não adianta mais eu tentar explicar. E aí, eu não quero explicar. Porque a minha vida já mudou, eu já estou em outra fase e, muito embora eu reconheça o sofrimento alheio como, em parte, causado por mim, eu não estou disposta a desencavar tudo aquilo.
Eu sei que parece o cúmulo da indiferença, mas não é. O que eu tento evitar é mais sofrimento para ambos. Não vale a pena ficar batendo na mesma tecla eternamente. Por mais que pareça o certo para o outro, não o é para mim.
Ultimamente, tenho tentado evitar essas duas últimas fases. Já fui mais implacável em relação a elas, especialmente na adolescência. Sempre somos mais implacáveis na adolescência. Hoje em dia, faço um esforço e tento conversar. Mesmo quando isso me aborrece, mesmo quando eu estou achando tudo um saco. Umas vezes funciona, outras não. Mas sempre é melhor do que deixar acontecer, para depois ver o resultado.
Acho que vou parar de escrever. Como boa falante prolixa que sou, poderia dar uma conferência de horas sobre o assunto, sem parar de falar por um só minuto. E isso cansa... até a mim.
A coisa acontece da seguinte forma:
Primeiro vem a fase do reconhecimento. Tudo é muito novo e ainda se pisa em ovos por, justamente, não saber onde se está pisando. Depois vem a fase em que já existe certo conhecimento de terreno e tudo é legal, porque é a fase da descoberta de um mundo completamente diferente do seu. Passa isso, o "legal" aumenta, porque agora tem-se mais proximidade, já se sabe do que está falando e como e com quem se está lidando. Essa normalmente é a melhor fase pois a cumplicidade está no auge mas ainda não cessaram as descobertas.
Aí, vem a rotina. Não que seja ruim, aliás longe disso. É uma situação boa porque você já conhece bem e sabe que pode contar com o outro em qualquer situação. Além disso, eventualmente, esse alguém ainda consegue fazer algo que te surpreenda e acaba por dar um sopro de ar fresco na relação. É quando você vê que, mesmo com alguns percalços pelo caminho, a coisa vale mesmo a pena. Se parar aí, está tudo certo.
Mas, em algumas situações, existem mais duas outras fases.
A primeira é a da rotina chata. Aquilo que era conhecimento e intimidade vira monotonia. Você passa a considerar a sua vida sem a outra pessoa e não se incomoda tanto com essa possibilidade. É claro que isso é meio gradativo. Começa com um pequeno incômodo, você cansa de alguma coisa específica que o outro costuma fazer. Depois aumenta e coisas que antes eram normais para você passam a te chatear. Chega a um ponto que você, em alguns momentos, evita deliberadamente estar com aquela pessoa. A situação cresce e chega a um ponto que você já considera a real possibilidade de renovar sua vida e conhecer alguém novo. Você passa a não querer mais aquela situação desgastada e estressante e, finalmente, se cansa de vez.
Aí, vem a fase final: o abandono. Você, por não agüentar mais tudo aquilo, abandona de vez a pessoa em questão. Você, que sempre se preocupou em como as suas atitudes iriam repercurtir frente a ele (a), passa a não ligar mais para isso. Aliás, você não está mais nem aí se alguém vai sofrer ou não com o que você está fazendo. Liga o botão do "tocar o foda-se" e... foda-se. Tudo que você quer é se ver livre, se sentir bem.
Comigo é assim que acontece. Muitas vezes a outra pessoa nem desconfia que eu estou me sentindo assim e só percebe tudo quando eu já abandonei. Aí, você me pergunta mas por que você não tentou conversar com ela?
Pois é. Boa pergunta. Justo eu, que gosto tanto de conversar e que acho que tudo pode ser resolvido, ou pelo menos amenizado, por uma conversa. Já pensei muito a respeito disso. Acho que é porque, quando estou no estágio do "cansaço", eu considero a coisa
tão óbvia que não vejo como o outro não percebe. E como eu já estou cansada, não me dou nem ao trabalho de explicar.
Admito que abandonei raríssimas vezes. E que, em algumas dessas vezes, eu me arrependi. Não por mim, porque dificilmente o abandono é um rompante. Antes, tudo já foi muito pensado e muito ruminado. Só me distancio de alguém quando tenho certeza que aquilo não me faz mais bem mesmo e que não tem jeito de ser reparado. Sou uma pessoa meio covarde para as mudanças drásticas na minha vida, então tirar alguém dela (ou sair da vida de alguém) para mim é sempre uma situação muito penosa e por isso, uma decisão tomada depois de muita, muita reflexão.
O meu arrependimento diz respeito ao outro, ao que eu deixei. Depois que tudo passa, vejo que causei um sofrimento que poderia ter sido amenizado se eu tivesse saído do meu universo umbiguista e conversado, explicado, demonstrado que aquilo não dava mais certo. Porque, na maioria das vezes, a pessoa só percebe o que está acontecendo quando já aconteceu, quando não tem mais volta. E não entende nada. E, por óbvio, sofre por não entender, "pôxa, estava tudo tão bem... o que será que aconteceu?". E aí, não adianta mais eu tentar explicar. E aí, eu não quero explicar. Porque a minha vida já mudou, eu já estou em outra fase e, muito embora eu reconheça o sofrimento alheio como, em parte, causado por mim, eu não estou disposta a desencavar tudo aquilo.
Eu sei que parece o cúmulo da indiferença, mas não é. O que eu tento evitar é mais sofrimento para ambos. Não vale a pena ficar batendo na mesma tecla eternamente. Por mais que pareça o certo para o outro, não o é para mim.
Ultimamente, tenho tentado evitar essas duas últimas fases. Já fui mais implacável em relação a elas, especialmente na adolescência. Sempre somos mais implacáveis na adolescência. Hoje em dia, faço um esforço e tento conversar. Mesmo quando isso me aborrece, mesmo quando eu estou achando tudo um saco. Umas vezes funciona, outras não. Mas sempre é melhor do que deixar acontecer, para depois ver o resultado.
Acho que vou parar de escrever. Como boa falante prolixa que sou, poderia dar uma conferência de horas sobre o assunto, sem parar de falar por um só minuto. E isso cansa... até a mim.
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