Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

quinta-feira, dezembro 26, 2002


Acho que não falei que terminei de ler "O Grande Gatsby", não, né?
Pois é terminei.
Aí, em seguida li "Os Três Mosqueteiros", do maravilhoso Alexandre Dumas. Mas, falemos do Gatsby. Achei um livro triste. Aliás, muito triste. Em resumo (odeio resumos. odeio pessoas que resumem, mas é isso, em resumo) o livro trata sobre um cara, o Gatsby, que ficou a vida inteira acalentando um sonho, vivendo para ele, evoluindo para ele, querendo ele, respirando ele e que, no fim, vê que tinha criado castelos no ar, porque tudo desmorona com um sopro, sem a menor resistência.
A mulher que para ele é uma deusa e que, teoricamente o ama, na verdade é uma mulherzinha fraca, que não se opõe de forma alguma quando o marido a impede de ficar com o Gatsby. A palavra que a define melhor é leviana. Ela não se importa com nada, a não ser ela. Acho que nem isso. Quando eu a imagino, vejo uma mulher deitada langudamente numa chaise-longue, num fim de tarde de calor, levemente suada (por causa desse calor), em meio a cortinas esvoaçantes, num ambiente meio embaçado, meio difuso, entre brumas.
Dá a impressão de ser uma bonita cena, mas não é. Demonstra a fraqueza de alguém que prefere ficar abandonada e sem ação a tomar as rédeas da própria vida.
As críticas que li mostravam bem isso. Uma geração inteira correndo para o nada, sem ambições e sem força. Só esse abandono, esse desalento.
O pobre Gatsby enfim morre. E, de todos aqueles que frequentavam a sua casa, em dias de festa, nenhum chora por ele. Nenhum vai ao enterro. Ninguém. Ele que sonhou tanto e que lutou tanto para conseguir realizar esses sonhos, conquistar pessoas, morreu só, como viveu.
Apesar de rodeado de pessoas, ele viveu só.
Pobre Gatsby.
Triste.
Muito triste.