Bocados de Ar

Porque as palavras não passam de bocados de ar

sexta-feira, julho 26, 2002


E lá estava eu, zapeando, como de costume (nota desta que vos posta: digo "zapeando como de costume" porque sou compulsiva com isso. Como diz meu primo tenho "dedinhos nervosos", de forma que não consigo assistir a um só programa de cada vez- acabo assistindo 3 ou 4 simultaneamente). Mas, então, lá estava eu , quando, de repente me deparo com "Gattaga", ainda no início.
Como era de se esperar, preparei-me para assistí-lo pela enésima vez.
"Gattaga" é um filme que eu gosto deveras. Ele tem um toque de Aldous Huxley em "Brave New World" (nunca vi o filme, só li o livro) que é meio óbvio, mas, mesmo assim, é muito bom. Para quem nunca leu, "Brave New World" (ou "Admirável Mundo Novo", como queira) trata a respeito de uma sociedade que pré-determina os seres humanos que vão constituí-la. Os bebês são feitos em laboratório e, desde de muito cedo, fica estabelecido quem servirá para ser um médico ou um advogado e quem servirá para lavar o chão e limpar banheiros. Como é de se esperar, alguém se rebela contra esse sistema e acaba por provar que ele não é assim tão eficiente.
É aí que mora a semelhança entre Huxley e "Gattaga". Ambos retratam uma sociedade em que se busca o perfeito como se isso fosse o melhor. Em "Gattaga" vende-se a idéia de que a única coisa que poderia dar errado em uma pessoa "feita" é a sua personalidade. Só isso não seria manipulável geneticamente.
Como também é de se esperar, um "Inválido" ou "Concebido pela Fé", como eles se chamam, se rebela contra esse sistema. Vincent (Ethan Hawke- "A Sociedade dos Poetas Mortos"), com o auxílio de um teoricamente perfeito, Jerome (Jude Law- "O Talentoso Ripley") que se tornou paraplégico numa tentativa de suicídio, engana todo o sistema a fim de poder se tornar um tipo de astronauta.
O que eu curto mesmo nesse filme (e na obra do Huxley) é como eles tentam demonstrar que, mesmo com todas as adversidades presentes, o espírito humano se sobrepõe à perfeição física.
Em última análise, adoro a fé na humanidade que essa obra apregoa. Adoro.
Ainda tem Uma Thurman ("Pulp Fiction"), como Irene, a namorada de Vincent e Alan Arkin ("O que é isso, Companheiro?") como o detetive que investiga um assassinato em Gattaga... Enfim, é um filme que vale a pena assistir.